Tratamentos Farmacológicos para a COVID-19: uma revisão

     A nova cepa do coronavírus, cujo nome oficial é síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2, do inglês severe acute respiratory syndrome coronavirus 2, (SARS-Cov-2 / 2019-nCoV), é o causador da doença COVID-19. Sua destruidora propagação pelo mundo culminou na declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020, dando início a uma corrida mundial dos cientistas das mais variadas áreas, em busca de formas de mitigar os efeitos da crise que se instala. Em decorrência, uma quantidade absurda de trabalhos científicos tratando do assunto é publicada diariamente.

     Claro que ninguém é capaz de ler tantos textos num período tão curto de tempo. Em muito contribuem, portanto, trabalhos de revisão da literatura, como o artigo Pharmacologic Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review (Tratamentos farmacológicos para a doença de Coronavírus 2019 (COVID-19): uma revisão, numa tradução livre), de James M. Sanders et al.1 O objetivo principal do artigo é sistematizar o conhecimento disponível sobre tratamentos para a COVID-19 de forma a servir de guia para procedimentos e pesquisas futuros.

     Os pesquisadores da Universidade do Texas analisaram mais de 1300 artigos, selecionados por meio da busca de palavras-chave, como “coronavirus”, “MERS-CoV”, “SARS-CoV-2” e “2019-nCoV” , combinadas às palavras tratamento e farmacologia, na base de dados PubMed. Esta base de dados, de extrema importância científica, é de acesso gratuito e contém artigos de periódicos em Biomedicina e Ciências da Vida, da Biblioteca Nacional de Medicina dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.2

     Alguns artigos considerados relevantes também foram identificados a partir das referências dos artigos iniciais. Adicionalmente, fez-se uma busca por testes clínicos voltados para tratamentos do SARS-CoV-2 que estivessem em andamento nos EUA e na China, resultando em cerca de 300 estudos, o que mostra a dedicação dos pesquisadores na busca por um tratamento eficaz para esse mal.

     Devido à urgência do desenvolvimento de um tratamento para essa doença que se alastra tão rapidamente pelo mundo, muitos dos artigos encontrados nessa revisão de Sanders et al. dizem respeito ao uso de medicamentos já utilizados para outras doenças, passíveis de serem usados no tratamento da COVID-19. Dois dos mais falados são a cloroquina e a hidroxicloroquina, conhecidos agentes antimaláricos cuja fórmula estrutural está representada na Figura 1.

Figura 1. Representação das moléculas de cloroquina (à esquerda) e hidroxicloroquina (à direita)

Fonte: desenhado por Henrique Coutinho com o programa ChemSketch 2019.1.2

     Apesar de todo o burburinho que essas substâncias têm causado na mídia, os estudos sobre seu uso no tratamento da COVID-19 analisados nessa revisão apresentam uma série de limitações, como a pequena quantidade de pacientes envolvidos1. A situação de outras drogas, como o umifenovir, utilizado na Rússia e na China para o tratamento da gripe, o baricitinibe, o imatinibe, o dasatinibe e a ciclosporina, agentes imunossupressores, a nitazoxanida (medicamento controlado, agente antiparasitário de amplo espectro,3 comercializado sob o nome de Annita), o favipiravir e o remdesivir (considerado pelos autores como o medicamento mais promissor dentre os analisados) é semelhante, o que pode incentivar a realização de pesquisas mais aprofundadas.

    Outros medicamentos, como a combinação de lopinavir/ritonavir, utilizada no tratamento da AIDS, e o oseltamivir, utilizado no tratamento da gripe, por outro lado, não demonstraram efeitos significativos no combate ao novo coronavírus1. Algumas dessas considerações, no entanto, foram extrapoladas com base apenas em testes in vitro ou mesmo em estudos do SARS e do MERS devido à falta de estudos específicos com o SARS-CoV-2 e, portanto, não excluem a possibilidade de novas pesquisas com esses agentes.

     Por fim, Sanders et al1 fazem uma análise de três terapias adjuntas (não diretamente relacionadas ao combate ao coronavírus, mas que servem de suporte a ele) que os autores julgam como de destaque, a saber: o uso de corticosteróides (anti-inflamatórios), o uso de imunomoduladores (substâncias que aumentam a atividade do sistema imunológico) e o uso de imunoglobulinas (anticorpos) retirados do sangue de pacientes que se recuperaram da COVID-19. De forma geral, devido aos seus possíveis prejuízos à saúde e também devido à falta de evidências da sua eficácia para o tratamento dessa doença nos trabalhos analisados nessa revisão, os autores desaconselham  o uso de corticosteróides para o tratamento de pacientes com COVID-19. A aplicação de imunoglobulinas, por outro lado, tem se mostrado promissora e a tendência é que a quantidade de estudos relacionados a essa terapia aumente  conforme cresce o número de pessoas que se recuperaram da doença.

     É claro que essa revisão da literatura, conforme apontado pelos próprios autores, não é de forma alguma exaustiva, até porque novos estudos são publicados diariamente, mas, de forma geral, o que podemos tirar dela é que, até o momento da publicação, 13 de abril de 2020, não havia nenhum tratamento reconhecidamente eficaz para a COVID-19. O melhor remédio, portanto, continua sendo a prevenção. Siga, então, as orientações das autoridades de saúde da sua cidade/ seu estado e, acima de tudo, não se automedique. Essa é uma prática extremamente perigosa (Figura 2).

Figura 2. Campanha de combate à automedicação do governo da Paraíba

Fonte: Agência Estadual de Vigilância Sanitária da Paraíba.4 

     Caso queira saber os detalhes da análise feita pelos pesquisadores, aproveite que o artigo original está disponível gratuitamente e faça uma boa leitura. Como sempre, dúvidas, críticas e sugestões são bem-vindas e podem ser enviadas tanto pelas redes sociais quanto pelo e-mail petunbquimica@gmail.com.

Referências Bibliográficas

1.SANDERS, James M. et al. Pharmacologic treatments for coronavirus disease 2019 (COVID - 19): a review. Jama, 323:18, pp. 1824-1836, 2020. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2764727 . Acesso em 11/06/2020.

2.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/ Acesso em 11/06/2020.

3.Reis, Fábio, para PFARMA. https://pfarma.com.br Acesso em 11/06/2020.

4.Disponível em: https://agevisa.pb.gov.br/noticias/agevisa-celebra-dia-nacional-do-uso-racional-de-medicamentos-e-ressalta-perigos-da-automedicacao/arte-campanha-estadual-de-combate-a-automedicacao-06-05-2019.jpg/view. Acesso em 11/06/2020.

 

Escrito pelo discente Henrique do Nascimento Coutinho

Revisado pelos discentes Luis Henrique e Francisco Wytorhugo

Revisão final Prfa. Dra. Elaine Rose Maia 

Editado pelo discente Luís Sousa F. Neto

 

henricoten@gmail.com