Lixo eletrônico: um sinal de constante inovação e consumo excessivo

      As inovações tecnológicas das últimas décadas desempenharam um papel significativo no que diz respeito ao encurtamento de distâncias, ganho de eficiência em comunicações e acesso a informações, descobertas científicas, desenvolvimento de novos medicamentos, além da criação de produtos e materiais que possam simplificar e agilizar a vida cotidiana.2 Um dos efeitos colaterais de tais avanços é a produção excessiva de novos dispositivos eletroeletrônicos, bem como o fomento do consumo cada vez mais desenfreado. Uma das consequências imediatas é que os objetos que se tornaram obsoletos logo são descartados e, frequentemente, de maneira inapropriada.3

    Seja em virtude do lançamento de um telefone celular mais moderno e com uma câmera de mais alta resolução, de um computador que possui um processador mais rápido ou de um novo videogame, algumas pessoas sentem a necessidade de se desfazer de seus aparelhos eletrônicos e comprar os mais novos disponíveis, ainda que seus dispositivos atuais não tenham perdido sua funcionalidade.3

Figura 1. Dispositivos eletroeletrônicos


Fonte: https://www.assespro-mg.org.br/brasil-lidera-producao-de-lixo-eletronico/

       De acordo com a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),4 equipamentos eletroeletrônicos são todos os produtos que dependem de corrente elétrica ou campos eletromagnéticos para seu funcionamento e, ao fim de sua vida útil, se tornam resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE). 

       Há perigo de contaminação quando do descarte inadequado dos REEE, tanto para a pessoa que o faz, quanto para os agentes envolvidos na coleta e na manipulação de tais materiais, potencializando graves riscos a sua saúde.1 Além disso, existe a possibilidade de que tais materiais contaminem o meio ambiente ainda que sejam descartados em aterros sanitários. Portanto, em hipótese alguma, devem ser depositados diretamente na natureza ou junto a resíduos orgânicos.4

      Alguns dos materiais que compõem os REEEs são metais pesados como alumínio, cádmio, arsênio, chumbo, cobre, bário, cromo, mercúrio, entre outros, que são potencialmente tóxicos e podem causar danos ao solo, contaminar lençóis freáticos e organismos que componham um determinado ecossistema. O quadro a seguir traz, de maneira resumida, possíveis danos que algumas dessas substâncias podem causar à saúde do ser humano.

      Quadro 1. Principais substâncias utilizadas na fabricação de dispositivos eletroeletrônicos e potenciais riscos à saúde humana.

 

Substância

Efeito

Alumínio

Perturbação intermitentes da fala (gagueira), disfunções neurológicas que impedem movimentos coordenados, convulsões, alterações de personalidade, cancerígeno na bexiga e pulmão.

Arsênio

Dor abdominal, vômito, diarreia, vermelhidão da pele, dor muscular, fraqueza, dormência e formigamento das extremidades, câimbras. Cancerígeno para pele, pulmão, bexiga e rins.

Cádmio

Dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreias. Perda de olfato, tosse, falta de ar, perda de peso, irritabilidade, debilitação dos ossos, danos aos sistemas nervoso, respiratório, digestivo, sanguíneo e aos ossos. Cancerígeno para pulmões e rins.

Chumbo

Fraqueza, irritabilidade, náusea, dor abdominal com constipação e anemia. Perda de apetite, perda de peso, apatia, irritabilidade, anemia, danos nos sistemas nervoso, respiratório, digestivo, sanguíneo e aos ossos. Cancerígeno para rins e sistema nervoso.

Mercúrio

Transtornos digestivos e nervosos, estomatite, salivação, mau hálito, anemia, hipertensão, afrouxamento dos dentes, problemas no sistema nervoso central, transtornos renais leves.

Níquel

Sensação de queimadura e coceira nas mãos, vermelhidão e erupção nos dedos e antebraços, edema pulmonar, pneumonia, dermatite alérgica, conjuntivite, asma, rinite crônica, sinusite nasal e irritação pulmonar crônica. Cancerígeno para pulmão e seios paranasais.

Zinco

Náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, mal-estar, cansaço, ulcerações gástricas, lesão renal e efeitos adversos no sistema imunitário.

Fonte: https://www.ecycle.com.br/1830-lixo-eletronico-componentes-toxicos

 

       Conforme apontado por estudo desenvolvido na Universidade das Nações Unidas (UNU), no ano de 2016, o Brasil foi o segundo maior produtor de lixo eletrônico no continente americano, líder na América Latina e atrás apenas dos Estados Unidos, com uma produção de 7,4 kg por habitante.5

       Um importante passo em direção ao enfrentamento eficaz desse problema foi a consolidação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que, dentre outros instrumentos, institui o mecanismo de Logística Reversa, estabelecendo um conjunto de ações integradas para que o ciclo de vida dos produtos possa ser modificado, de maneira que, ao fim de sua vida útil os produtos retornem às fábricas para que possam ser reaproveitados e descartados de forma apropriada.

       Além disso, a PNRS determina que todos os atores envolvidos na geração de resíduos eletroeletrônicos são responsáveis pela sua correta destinação, sejam eles fabricantes, distribuidores, comerciantes ou consumidores, bem como define de maneira clara quais as responsabilidades e ações devem ser perpetradas por tais agentes.1

       Sendo assim, é dever de todos adotar uma postura de consumo consciente e responsabilizar-se pelo correto manejo e descarte do lixo eletrônico para que seus impactos no ambiente possam ser mitigados e que os mesmos não representem riscos à saúde humana.

 

Resumo escrito por Thiago Santana Alves

santanathiagogm@gmail.com

 

Referências Bibliográficas

1. MOI, P. C. P.; De Souza, A. P. S.; Oliveira, M. M.; Faitta, A. C. J.; De Rezende, W. B.; Freire, F. A. L. Lixo eletrônico: consequências e possíveis soluções. CONNECTION ON-LINE - REVISTA ELETRÔNICA DO UNIVAG, n. 7, 2014.

2. CAUMO, M.; De Abreu, M. C. Resíduos Eletroeletrônicos: Produção, Consumo e Destinação Final. Maiêutica-Tecnologia e Meio Ambiente, v. 1, n. 1, 2013.

3. DE MELLO, A. P.; Mayer, J. P. S.; Costa, K. A. S. Considerações sobre a destinação do lixo eletrônico. REFAS: Revista FATEC Zona Sul, v. 2, n. 3, p. 2, 2016.

4. ABDI - AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Logística reversa de equipamentos eletroeletrônicos: análise de viabilidade técnica e econômica. p.17, 2012. 

5. BALDÉ, C. P.; Forti, V.; Gray, V.; Kuehr, R. ; Stegmann, P. The Global E-waste Monitor–2017, United Nations University (UNU), International Telecommunication Union (ITU) & International Solid Waste Association (ISWA), Bonn/Geneva/Vienna. ISBN Electronic Version, p. 978-92, 2017.